Procura por água mineral continua, apesar de laudos afirmarem que água é potável
Enorme fila se formou para pegar água mineiral distribuída pela Samarco
O primeiro dia de distribuição de água mineral com exigência do CPF em Governador Valadares foi marcado por tumultos, ameaças de saques e revolta. O objetivo do Comitê de Gerenciamento de Crise era evitar que uma mesma pessoa recebesse água várias vezes enquanto outras voltavam para casa de mãos vazias, mas o preenchimento manual dos primeiros cadastros levou mais tempo que a paciência da população pode suportar.
“Não pensaram direito, não planejaram. O sol de Valadares é quente demais para ficarmos debaixo dele tanto tempo. E pouco caso demais com a gente”, reclama a dona de casa Márcia Pericellis, do bairro Altinópolis. Logo depois dos primeiros cadastros, quem estava na fila se revoltou e houve tumulto. Com a ameaça de saque, a PM foi acionada, mas a própria comunidade se organizou improvisando senhas.
Foram distribuídas 150 senhas, feitas com pedaços de folha de caderno e numeração escrita com caneta azul. “Se derem suporte, material, nós mesmos faremos esse controle aqui. O que não dá é a Samarco colocar duas pessoas anotando número por número a mão, enquanto a gente queima no sol”, disse Roberto Inocêncio, de 44 anos. A PM também teve que controlar tumultos na Escola Estadual Israel Pinheiro, na Rua Marechal Floriano, Centro.
A dona de casa Lena Isabel Silva, de 34 anos, foi para a fila com o bebê de cinco meses, duas horas antes do início da distribuição, marcada para às 14 hora,; mas duas horas depois ainda estava na fila. O menino esta com coceira no corpo e a mãe não tem dúvidas que a alergia foi provocada pela água fornecida pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), apesar dos vários laudos, inclusive feitos a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), assegurando que a água e potável.
“Quem acredita? A água não está boa para beber e nem dar banho nas crianças e não foi ninguém que me falou. Estou desempregada, tenho dois filhos e preciso enfrentar essas filas quase todo dia porque tenho medo de adoecerem”, desabafou. Passava das 17 horas quando a fila da Praça de Esportes, Centro, começou a “andar”. No local desde o meio dia, a aposentada da área da saúde, Lúcia Maria das Graças, de 68 anos, estava revoltada.
“Não tenho saúde para enfrentar essa fila, esse descaso. Marcaram para as 14 horas o início da distribuição e até agora não apareceu ninguém nem para justificar o atraso. Mas não tenho alternativa e vou ficar aqui, porque voltar a acreditar nessa água que o Saae está disponibilizando vai demorar ainda. Tem muito interesse, muito dinheiro envolvido e do jeito que o nosso Brasil está (corrupção), e difícil acreditar que essa água está própria para o consumo”.
No final da tarde, a exigência do CPF foi suspensa. A assessoria do Comitê de Gerenciamento de Crise que funciona na 8ª Região de Policia Militar informou que uma reunião será feita na manhã desta terça-feira (3) para avaliar e definir mudanças que precisarão ser feitas.
“Teremos que encontrar novas formas para distribuir essa água garantindo que cada morador da cidade tenha direito a 30 litros por semana, como determinou a Justiça, e ao mesmo tempo evitar que uma mesma pessoa frequente a fila várias vezes”, explicou a capitão Adriana Faria. Apesar disso, segundo ela, o momento e de transição porque a Samarco está assumindo a distribuição de água na cidade. A assessoria da Samarco informou que a responsabilidade nesta segunda-feira e do Comitê.
Crime
A polícia de Valadares está atenta a denúncias sobre a venda de água mineral adquirida de graça nos caminhões da Samarco e de voluntários. Mas ainda não conseguiu fazer flagrantes e prisões. Mas a briga por água já levou quatro pessoas para a delegacia: três homens pegaram galões de água mineral em cima dos caminhões que seguiam para os pontos de distribuição e uma mulher desacatou um policial quando ele evitava que ela furasse fila para pegar água pela terceira vez, numa mesma tarde e no mesmo ponto.
Fonte: (Hoje em Dia)
