BRASÍLIA – O envelhecimento populacional é uma realidade mundial, e no Brasil não é diferente. No país, que teve a expectativa de vida elevada para 76 anos, em média, a velocidade em que aumenta o número de idosos é alta, se comparado às demais nações que integram a América Latina. Em 2065, a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que 33,9% da população tenha mais de 65 anos. Nesse sentido, especialistas têm estudado e discutido a preparação dos serviços de saúde para a longevidade de quem vive por aqui.

Um dos principais desafios é entender que a idade cronológica não é fator determinante para um tratamento, afirma Theodora Karnakis, coordenadora de oncogeriatria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e do Hospital Sírio Libanês.

“Devem ser levados em consideração fatores como o ambiente em que o indivíduo vive, a que ele esteve exposto durante a vida, como alimentação pouco nutritiva ou tabagismo, por exemplo. As diferenças de tempo de vida a partir dos 60 anos se alteram de acordo com o perfil de cada um”, explica a médica, que palestrou durante a 14ª edição do Encontro Nacional de Editores, Colunistas, Repórteres e Blogueiros (Enecob), em Brasília, na última semana.

Outra situação destacada por Theodora está relacionada ao respeito com os idosos. “São pessoas que têm um histórico, uma profissão, experiências. Não podem ser tratadas como se fossem crianças. Sou contra a infantilização desses indivíduos. É desrespeitoso falar com eles com palavras no diminutivo”, alerta.

“A promoção da saúde tem que ser intersetorial, porque muitas dessas doenças crônicas estão ligadas a determinantes sociais” (Patrícia Vasconcelos, técnica do Ministério da Saúde)

Transição

À medida que a população envelhece, aumenta o número de doenças crônicas. Sete das dez principais causas de morte no Brasil são enfermidades desse grupo, que representa 73% dos óbitos no mundo. As principais causas são as cardiovasculares, as neoplasias (cânceres) e as respiratórias crônicas.

O crescimento dessas patologias é uma das três transições importantes na questão da saúde mundial, revela Patrícia Vasconcelos, técnica do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não transmissíveis e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, também participante do Enecob. 

“A primeira é demográfica, levando em conta a redução da taxa de natalidade e o aumento das mortes. A epidemiológica é a segunda, com a queda de doenças ligadas a condições precárias de nutrição. Já a terceira é estrutural, em função do crescimento das doenças crônicas”, descreve.

A técnica aponta que, quanto mais cedo as ações de prevenção forem implementadas, mais rápido acontecerá a redução das doenças. Uma das soluções para barrar o crescimento das neoplasias, por exemplo, passa pela Atenção Básica de Saúde com os diagnósticos precoces, como os realizados no papanicolau (prevenção do câncer de colo do útero). 

“Precisamos fazer com que os municípios consigam entender como realizar essa prevenção, já que é difícil estar no âmbito federal e pensar estratégias para regiões e cidades em específico. Outra medida é melhorar os atendimentos de alta complexidade e avançar tecnologicamente”, coloca Patrícia Vasconcelos.

Câncer

Atualmente, o Brasil tem taxas de óbitos por câncer menores que nações mais ricas. No entanto, há uma preocupação, pois o país apresenta maior taxa de incremento de doenças crônicas. 

“Isso quer dizer que a velocidade de aumento da taxa de morte por neoplasias é alta em relação às demais. O crescimento rápido se deve ao envelhecimento da população e de riscos comportamentais e ambientais, como o cigarro”, detalha Patrícia Vasconcelos, técnica do Ministério da Saúde.

Ela aponta que, em 2029, estudos mostram que o câncer deverá tornar-se a primeira causa de morte no Brasil. “Se adotadas medidas preventivas, há cânceres evitáveis como o de colo do útero e o de estômago. No caso desse segundo, também nos homens. Além disso, ações como campanhas e retirada de propagandas têm reduzido o hábito de fumar nos brasileiros ao longo dos anos”, coloca.

“O aumento da disponibilidade de alimentos ultraprocessados impacta de forma muito negativa no peso do indivíduo” (Ana Luiza Moura, nutricionista)

Obesidade

Para Ana Luiza Moura, nutricionista representante do setor de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde no 14º Enecob, uma das grandes preocupações em relação ao aparecimento de patologias em grau crônico é o aumento de peso da população. 

“A obesidade não se restringe a uma massa corporal ligada a uma altura, é um problema de saúde. O organismo dispara processos internos que se caracterizam como maléficos. Então, não há como reconhecer um indivíduo obeso como alguém em bom estado de saúde”, diz Ana Luiza.

Nesse cenário, fatores sociais e ambientais são determinantes. “Cresceu o acesso a alimentos ultraprocessados, que são mais baratos e prejudiciais à saúde, as jornadas de trabalho estão maiores e muitos espaços públicos não são conservados ou apropriados para a prática de atividades físicas”, acrescenta a nutricionista.

 

 

 

 

Fonte: (Hoje em Dia)